domingo, 23 de janeiro de 2011

O Prestígio do Bibliotecário

Berenice Neubhaher

Era 1994, e já participava de listas de discussões em diversos ramos da biblioteconomia,Ciência da Informação, Terceiro Setor e outros. Depois, em 2008, criei o blog “A Biblioteca” e “A Bibliotecária: 34” para a área do direito.

Para esse artigo, vou aproveitar uma pergunta que recebi no meu blog no post de 05/09/2009 "Biblioteconomia: Licenciatura "sem prestígio” (sic)..." onde é reproduzida matéria publicada na Folha de São Paulo do mesmo dia com o título “Participação da rede pública é maior em biblioteconomia". Recentemente recebi em comentários:

“- Sou aluna do 1o. período de licenciatura em biblioteconomia, desejo saber quais as expectativas do curso pra este século?”

Demorei a responder, não estou preparada para tal pergunta, não sou professora, desconheço a grade curricular da maioria dos cursos.

Porém, em minha opinião, é um erro criar expectativas glamourosas. A Biblioteconomia é uma carreira longa, exige dedicação e muito estudo. Enveredando para minha área de trabalho, o ramo do direito, é muito freqüente receber candidatos a vaga de estagiários interessados na área jurídica porque ela goza da reputação de remunerar bem. Não há como negar a importância da biblioteca na vida do escritório. Porém, o trabalho é árduo, as solicitações são complexas e o estresse é grande.

Os bibliotecários atuam no staff administrativo das Sociedades de Advocacia. Nosso desafio é selecionar as informações realmente confiáveis e relevantes, agregar valor, dando ordem e destino, viabilizando seu uso no processo decisório.

O bibliotecário de advocacia precisa ter familiaridade com as fontes de pesquisa jurídicas quanto ao conteúdo: jurisprudência, estatutos, regulamentos administrativos, decisões administrativas, regras e regimento dos tribunais, acompanhamento legislativo, legislação federal, estadual e municipal, códigos, Constituição Federal, Estadual, Leis orgânicas, algumas fontes precisam estar diferenciadas. Entretanto, encontramos bibliotecários trabalhando em varias outras atividades, de acordo com suas habilidades pessoais. Com frequência somos requisitados para atuar na gestão de conteúdo de sites e intranet, ou na arquitetura da informação, desenvolvimento profissional, gerenciamento de TI, treinamento, tradução ou prática de apoio, e muito mais.

Considero o nicho (advocacia) consolidado e em expansão, ele pertence ao ramo de negócios de intensa competitividade. Existem no Brasil cerca de 20 mil escritórios de advocacia, sendo 52,40% das matrizes localizadas em São Paulo, empregam 60 mil profissionais de direito em todo Brasil, segundo levantamento da Análise Setorial do Valor Econômico (2007).

Entendo que não devemos buscar prestígio social na profissão, ainda que possamos,sim, merecer destaque na sociedade e área de atuação. O grande objetivo é entender a Biblioteconomia como disciplina meio, assim, permitir que se entregue a cada um o que é seu (suum cuique tribuere), o exercício profissional está acima dessa discussão.

Permita-me dizer, prezada estudante, a questão maior é se temos vocação para a Biblioteconomia. Se estamos dispostos a desenvolver um trabalho criativo, dinâmico e inovar os conceitos nesse mundo recheado de novas tecnologias e mudança de valores.

Na literatura há uma diversidade ampla dos possíveis elementos que constituem a competência e a habilidade do profissional da ciência da informação.Barbalho e Rozados enfatiza que
“a atitude é a dimensão do querer-saber-fazer, [...]”. “[...] A competência
profissional é um processo contínuo de internalização de fundamentos
conceituais, atitudinais e de habilidade necessária à compreensão e interação
permanente com o universo informacional e sua dinâmica, de modo a proporcionar
um aprendizado ao longo da vida.”

Alguns sentem insegurança para atuar na área jurídica (ou de negócios); outros por desconhecimento, ou até mesmo por comodidade e desinteresse, só conseguem imaginar-se atuando em sua zona de conforto.

Cabe somente ao profissional aprimorar a sua formação, buscar continuamente a atualização e o aperfeiçoamento, e desenvolver as habilidades e competências exigidas pelo mercado. O prestígio é conseqüência.

REFERÊNCIAS

BARBALHO, C.R.S.; ROZADOS, H.B.F. Competências do profissional bibliotecário brasileiro: o olhar do sistema CFB/CRB's. In: IX Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação - ENANCIB, 2008, São Paulo. Anais eletrônicos. São Paulo: ENANCIB, p.1-15, 2008. Disponível em: . Acesso em: 15 abr. 2009.

VALOR ANÁLISE SETORIAL: escritórios de advocacia: mercado - perspectivas - perfis de escritórios. São Paulo: Valor Econômico, 2007. Anual


Artigo publicado:

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 29-31, dez. 2010 |http://revista.crb8.org.br